quarta-feira, 24 de abril de 2013

De Abril , canções mil..... Há uma música do povo

Por estes dias  publicarei, principalmente, interpretações de canções portuguesas  de que gosto especialmente , cujos autores ou/e letras  foram  marcantes no panorama  musical, político e social  pós 25 de Abril de 1974. Tentarei mostrar que a música  dessa época não se resume às canções de intervenção e que, por outro lado, há hoje em dia quem, nesta área,  recrie, modernize, promova e dignifique magistralmente os conteúdos originais , sem revivalismos e nostalgias que  me parecem estéreis.  Realmente a música e a poesia são linguagens universais, para todos e de todos. As emoções e sensação de bem- estar  que provocam permanecem  ao longo dos tempos e  são independentes de conjunturas polítco-económicas e socais. 


Hoje,  24 de Abril de 2013, começo com " Há uma música do povo" adaptação do poema de Fernando Pessoa que transcrevo na íntegra. A música é de  Mário Pacheco, filho do guitarrista António Pacheco que acompanhou alguns dos maiores fadistas portugueses ( estou a lembrar-me  de Hermínia Silva com o seu célebre  "anda Pacheco!").
Esta  melodia é normalmente cantada como fado, sendo muito conhecida a versão de Mariza. 

 O arranjo e trompete  de João Moreira são belíssimos e a  interpretação de Paula Oliveira, cheia graves e profundidade, arrepia. Recriação em jeito de jazz que envaidece a enorme alma portuguesa.     

*24/4/2019 - o vídeo foi cortado ...resta o solo de trompete de João Moreira.  



Há uma música do povo
Há uma música do povo,

Nem sei dizer se é um fado

Que ouvindo-a há um ritmo novo

No ser que tenho guardado...

Ouvindo-a sou quem seria

Se desejar fosse ser...

É uma simples melodia

Das que se aprendem a viver...



E ouço-a embalado e sozinho...

É isso mesmo que eu quis ...

Perdi a fé e o caminho...

Quem não fui é que é feliz.



Mas é tão consoladora

A vaga e triste canção ...

Que a minha alma já não chora

Nem eu tenho coração ...



Sou uma emoção estrangeira,

Um erro de sonho ido...

Canto de qualquer maneira

E acabo com um sentido! 


Fernando Pessoa

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