domingo, 24 de fevereiro de 2013

DEJALO IR-Marta Gomez

António Botto- As Cartas Devolvidas



Ainda bem que nos afastámos. Ainda bem que o fizemos. Eu não podia mais… Era impossível, acredita. Se continuássemos a viver como vivíamos — e mudar, dificílimo seria, — se nós desistíssemos desta separação ou dêste sacrifício, apartávamos, certamente, as nossas almas, e para sempre! Ainda bem que nos afastámos. Ainda bem que o fizemos. Dizes-me na tua carta relida já quatro vezes que a tranqüilidade da nossa vida vale mais que tôdas as paixões, que todos os desejos… Tu dás-lhe êsse nome; mas, para mim, tem outro: — sim; chamemos-lhe egoismo. O teu é sacrificar todos os prazeres para evitar uma dor; — és cobarde e comodista. O meu, tambem se chama egoismo, porém, é egoismo diferente, é egoismo ideal: — sacrificar tudo ainda que o sacrifício possa destruir a minha vida e essa destruïção entristeça para sempre a minha alma. Ah!, como nós somos opostos! Tu acabaste para esquecer ou pôr de parte a minha camaradagem; eu, acabei para te lembrar continuamente e para mais te pertencer. Tinha que ser: está bem. A vida é uma sucessão de imagens; se umas se apagam há outras que permanecem…


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Notícias da minha vida — para quê? O que tu possas imaginar dela talvez tenha mais encanto. Notícias minhas? Caberiam em três palavras: — Tento, apenas, esquecer-te!


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Eu não devia responder á tua carta; nem sei dizer porque o faço. Também de que servia dizer-te? A verdade parece traição àqueles que vivem da mentira. Tentei esclarecer-te, para meu sossêgo e minha tranqüilidade êsse desagradável mal entendido que deu origem á nossa frieza actual, tão firme, segundo parece. Não quizeste escutar-me. Pouco depois, saías, — sem me deixar sequer a esmola de uma palavra… Dias passaram, longos dias decorreram, e hoje, a tua carta de quatro linhas vem dizer-me que te arrependes da simpatia que me déste… E num tom sêco terminas: que eu que sou bem diferente daquele que tu julgaras… Nada respondo. Apenas te lembro que a vida é cruel, imensamente cruel; e a sua maior crueldade é não permitir que pessoas da nossa estima possam conhecer a verdade dos nossos pensamentos e a verdade do nosso sentir. Adeus. As grandes paixões são para as grandes almas.

(Foi respeitada a grafia original do autor)


*António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Gad Elmaleh _ " Papa est en haut "

Rir é fundamental.
O Humor pode ser , como a música, uma linguagem universal.
Gad Elmaleh dá  música e.... tudo!
Bravo!!





domingo, 17 de fevereiro de 2013

Vivo e experimento, ponto final


Há dois verbos que se usam agora, por tudo e por nada, e que me tiram do sério. Comecei por pensar que eram invenção de vendedores de banha da cobra – muitos deles, na versão 2.0, ganham dinheiro a “estimular o empreendedorismo” em conferências -, ou de políticos profissionais, ou talvez tivessem nascido no maravilhoso mundo dos comentadores de tudo e de nada.


Há bocado dei-me ao trabalho de ir ver se os verbos existem. E não é que existem mesmo?

Ou seja, é ainda pior: há dois verbos que se usam agora, por tudo e por nada, cujas versões originais, que desde sempre se usaram, são francamente melhores, mais elegantes, e simples. Por que raio então é moda dizer-se vivenciar, em vez de viver? Ou experienciar, em vez de experimentar?

Toda a vida vivi e experimentei. Nunca vivenciei nem experienciei.

Mas no mundo moderno as pessoas “vivenciam” e “experienciam” cenas.

Aqui em casa, nada mudou. Vivo e experimento.

Não, não me lixem: nem acordo ortográfico nem verbos que complicam o que é simples.

Ou alguém prefere vivenciar o que pode viver?



Pedro Rolo Duarte

http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt/306991.html

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Buika - Jodida pero contenta (Directo Cueva Candela 06)

Encantada!




A La Claire Fontaine - The Painted Veil

Esta canção foi, ao que parece, interpretada por Nicole Porebski e o  grupo coral infantil Les Petits Minous, em 2006, para o filme O Véu Pintado , cujos personagens centrais são interpretados por  Eduard Norton e Naomi Watt,  uma adaptação feliz do excelente romance  de Somerset Maugham.   




À la claire fontaine,
M'en allant promener
J'ai trouvé l'eau si belle
Que je m'y suis baigné

Refrain :
Il y a longtemps que je t'aime
Jamais je ne t'oublierai

Sous les feuilles d'un chêne,
Je me suis fait sécher
Sur la plus haute branche,
Un rossignol chantait

Refrain

Chante rossignol, chante,
Toi qui as le cœur gai
Tu as le cœur à rire,
Moi je l'ai à pleurer

Refrain

J'ai perdu mon amie,
Sans l'avoir mérité
Pour un bouquet de roses,
Que je lui refusai

Refrain

Je voudrais que la rose,
Fût encore au rosier
Et que ma douce amie
Fût encore à m'aimer
(autre version:
Et que le rosier même
À la mer fût jeté.)

Este Seu Olhar- Teresa Pinto Coelho

Uma pérola do youtube, da R.T.P ( Fialho Gouveia é o apresentador) e da música portuguesa:
Teresa Pinto Coelho em 1962, com o conjunto musical Thilo's (Krassman) Combo.
 Bossa Nova em Português . Admirável interpretação.

   


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

LOUCURA / SOU DO FADO- MARCO RODRIGUES


Marco Rodrigues : a Alma a cantar...arrepia! 

Sou do fado
Como sei
Vivo um poema cantado
De um fado que eu inventei

A falar
Não posso dar-me
Mas ponho a alma a cantar
E as almas sabem escutar-me

Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou

E se vocês
não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou

Esta voz
tão dolorida
É culpa de todos vós
Poetas da minha vida

É loucura,
ouço dizer
Mas bendita esta loucura
de cantar e de sofrer

Chorai, chorai
Poetas do meu país
Troncos da mesma raíz
Da vida que nos juntou

E se vocês
não estivessem a meu lado
Então não havia fado
Nem fadistas como eu sou


"De facto, haverá melhor letra que apresente um fadista ?"( http://fadocravo.blogspot.pt)
A propósito deste fado vale a pena ler o que se conta em /05http://fadocravo.blogspot.pt/2011/loucura.html?spref=bl onde também se podem ver e  ouvir outras interpretações: 
" Gostaria de não me tornar enfadonha por vir lembrar, uma vez mais, esse " rapaz , pálido e romântico, de camisa negra à..."

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Sergio Mendes - Magdalenha


Não gosto do Carnaval!




"Também eu não gosto e sou brasileira! Mas gosto do Brown, do som de uma boa bateria e de um bom samba de raiz! E o bom é que para ouvir tudo isto nem é preciso esperar pelo Carnaval!" (Cristina Castro) 
Ora ai está Cristina! 


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Melody Gardot - Who Will Comfort Me (Live Abbey Road 2009)


AMOR FEINHO

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho. 

Adélia Prado
(Adélia Luzia Prado Freitas (Divinópolis - MG, 13 de dezembro de 1935).

A Morte do Cisne por John Lennon da Silva.mp4

(.....)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

A Companheira por Zelia Duncan


   Zélia Duncan compôs a música. A  letra desta canção é de Luiz Tatit (cuja biografia vale a pena conhecer  http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Tatit)  que também a canta, quanto a mim, sem a "chama" a que neste vídeo se assiste .
   Esta interpretação prende e faz sentir cada frase que é dita a cantar. 
   O poema faz pensar, comove.... A história por ele contada seria  tocante, mesmo que só pudesse ser lida. 





A Companheira 


Eu ia saindo, ela estava ali

No portão da frente

Ia até o bar, ela quis ir junto

"tudo bem", eu disse

Ela ficou super contente

Falava bastante,

O que não faltava era assunto

Sempre ao meu lado,

Não se afastava um segundo

Uma companheira que ia a fundo



Onde eu ia, ela ia

Onde olhava, ela estava

Quando eu ria, ela ria

Não falhava



No dia seguinte ela estava ali

No portão da frente

Ia trabalhar, ela quis ir junto

Avisei que lá o pessoal era muito exigente

Ela nem se abalou

"o que eu não souber eu pergunto"

E lançou na hora mais um argumento profundo

Que iria comigo até o fim do mundo



Me esperava no portão

Me encontrava, dava a mão

Me chateava, sim ou não?

Não



De repente a vida ganhou sentido

Companheira assim nunca tinha tido

O que fica sempre é uma coisa estranha

É companheira que não acompanha



Isso pra mim é felicidade

Achar alguém assim na cidade

Como uma letra pra melodia

Fica do lado, faz companhia



Pensava nisso quando ela ali

No portão da frente

Me viu pensando, quis pensar junto

"pensar é um ato tão particular do indivíduo"

E ela, na hora "particular, é? duvido"

E como de fato eu não tinha lá muita certeza

Entrei na dela, senti firmeza



Eu pensava até um ponto

Ela entrava sem confronto

Eu fazia o contraponto

E pronto



Pensar assim virou uma arte

Uma canção feita em parceria

Primeira parte, segunda parte

Volta o refrão e acabou a teoria



Pensamos muito por toda a tarde

Eu começava, ela prosseguia

Chegamos mesmo, modesta à parte

A uma pequena filosofia



Foi nessa noite que bem ali

No portão da frente

Eu fiquei triste, ela ficou junto

E a melancolia foi tomando conta da gente

Desintegrados, éramos nada em conjunto

Quem nos olhava só via dois vagabundos

Andando assim meio moribundos



Eu tombava numa esquina

Ela caía por cima

Um coitado e uma dama

Dois na lama



Mas durou pouco, foi só uma noite

E felizmente

Eu sarei logo, ela sarou junto

E a euforia bateu em cheio na gente

Sentíamos ter toda felicidade do mundo

Olhava a cidade e achava a coisa mais linda

E ela achava mais linda ainda



Eu fazia uma poesia

Ela lia, declamava

Qualquer coisa que eu escrevia

Ela amava



Isso também durou só um dia

Chegou a noite acabou a alegria

Voltou a fria realidade

Aquela coisa bem na metade



Mas nunca a metade foi tão inteira

Uma medida que se supera

Metade ela era companheira

Outra metade, era eu que era



Nunca a metade foi tão inteira

Uma medida que se supera

Metade ela era companheira

Outra metade, era eu que era


Luiz Tatit  

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Mário Laginha Trio - Valsa nº 2 Op. 34


Já não é valsa...  talvez seja um bolero.... 
O resultado é belíssimo. Um arranjo genial que Chopin elogiaria se pudesse ouvir.


A song by Frederic Chopin, arranged by Mário Laginha and included on his trio album Mongrel Chopin (ONC, 2010).
 With Mário Laginha on piano, Bernardo Moreira on double bass and Alexandre Frazão on drums.
  

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pedro Abrunhosa & Bandemónio - Socorro

Goste-se ou não ,este funk com letra e música de Pedro Abrunhosa,  marcou o panorama musical dos anos 90 em em Portugal.
Ritmo, balanço, não lhe falta e o poema é um estrondo! 




Já não como há cinco dias
não durmo há mais de um mês,
desde que te conheci
a minha vida é como vês.
Passo os dias a pensar
não sei o que fazer,
eu nem quero acreditar
no que me foi acontecer.
Só queria estar sozinho
e não pensar mais em amor,
sempre que conheço alguém
fico de mal a pior.
Li no "Metro" o teu anúncio,
de carácter pessoal
limitavas-te a dizer...

Curioso como sou
apressei-me a responder,
só para te perguntar
o que é que isso quer dizer.
Guardei o jornal no bolso
para te falar depois,
mas decorei o teu número
937812.
Liguei-te às seis da tarde,
devias estar a acordar,
essa voz rouca e quente
num suave murmurar.
Fiquei quase sem fala,
estive mesmo a desligar
do outro lado dizias...

Socorro!! Estou a apaixonar-me
É impossível resistir a tanto charme.

Foste-me buscar de carro
levaste-me à beira-mar,
nas tuas mãos a 4L
mais parece um Jaguar!
Sentados na esplanada
a tomar um cimbalino,
foi então que percebi
essa coisa do destino.
Nesse dia aconteceu
nunca mais vou esquecer
- o mar, o sol, o céu, a praia -
todo um mundo de prazer,
acendes um cigarro
afagas-me o cabelo,
disseste então assim...

Não percebo o que é que queres,
nem o que estás a dizer,
só sei que tu consegues
mostrar o que é ser mulher,
quando nós nos separamos
não nos vimos por um mês,
trinta dias a pensar
em te ter mais uma vez.
Depois vi-te na Indústria
a dançar ao som do Prince
senti-me devorado
pelo teu olhar de lince.
Com ar discreto e decidido
chegaste-te ao pé de mim,
sussurraste-me ao ouvido...

Refrão

Encontrei-te então na baixa
(sem nada que o justifique)
ali ficámos toda a tarde
nos sofás do Magestic,
Falaste-me do mundo
d'outras terras e lugares,
mostraste-me perfumes
de oceanos e mares.
Ali sentado viajei,
ali p'ra sempre quis ficar,

contigo perto dos olhos
os lábios quase a beijar.
Falaste da cidade,
casas, ruas e pessoas
e disseste sem vaidade...

Tenho ouvido muita coisa
mas nunca tão bela assim,
seduzir e encantar,
são coisas novas p'ra mim.
O que eu gosto mais contigo
(se queres saber o que eu acho)
é que consigo ser homem,
sem dar uma de macho.
Já não como há cinco dias,
não durmo há mais de um mês,
desde que te conheci
a minha vida é como vês.
Passo os dias a pensar
já não sei o que fazer
eu nem quero acreditar
no que me foi acontecer.
Pedro Abrunhosa

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

The astounding eyes of Rita - Anouar Brahem -خط عربي


Anouar Brahem (em árabe أنور ابراهم) (nascido em 20 de outubro de 1957) é compositor e tocador de alaúde, considerado como inovador na sua área. As audiências de jazz são o público-alvo das suas performances, em que a múcica tradicional árabe se funde com a música folk e o jazz. Foi reconhecido no seu país no final de 1980 e começou a gravar por volta de 1990.





Sobre a beleza e as características da caligrafia árabe pode ler-se  mais em  http://www.alfurqan.pt/caligrafia1.asp

 "A caligrafia árabe foi considerada, desde a aurora do Islão, como uma arte estética de grande importância porque ela reflecte o espírito da civilização árabe-islâmica. Ao formar os caracteres da escrita à sua maneira, com muito gosto e finura, a caligrafia provou que as letras se podiam transformar nas suas mãos num instrumento dócil capaz de fazer resplandecer a beleza e extrema delicadeza dos caracteres árabes.
 Isso permitia-lhes criar uma multitude de obras de arte que, até agora, enfeitiçam os espíritos e cativam a imaginação"