terça-feira, 31 de outubro de 2017

Everybody's Talkin

"Everybody's Talkin'" is a song written and recorded by singer-songwriter Fred Neil in 1966. A version of the song performed by Harry Nilson became a hit in 1969.
The song appeared in notable moovies like Midnight Cowboy in 1969 and  Forrest Gump, 1994 .






  Great songs are always covered by several artists .
I love those versions , mabe more than original, each one in a different way and in a different mood.




Everybody's talking at me
I don't hear a word they're saying
Only the echoes of my mind

AFONSO DOS REIS CABRAL- O MEU IRMÃO( excerto)



   “ De cima do monte, o Tojal tem o tamanho de uma mão. É um daqueles lugares que Portugal deixou morrer, mas agora, com o descalabro – e de certa forma foi para nos afastarmos dele- que fugimos durante alguns dias -, talvez as pessoas voltem às tocas para lamber as feridas. O descontentamento sobe pelas paredes, rebenta com o betão, mas não sai do sítio. Implodimos mais do que explodimos e tudo fica na mesma, a não ser, claro, as nossas circunferências, que são desfeitas. Vivemos como sacos de carne podre muito bem fechados e contidos mas a morrer por dentro. As manifestações não são mais do que uma ruptura nessa morte, como os afogados que ainda tentam respirar antes de a água os engolir.
  (…)
   Quando isto acabar, quando a crise tiver outro nome, sobreviveremos cada um para o seu canto, cada um mais estropiado do que o outro. Depois aos poucos, voltará tudo ao normal um certo belo dia em Lisboa, daqueles que Lisboa tem, como já ninguém se lembra do descalabro e até está uma brisa agradável, alguém arranjará como nos lixar outra vez.
   Mas, enfim, que sei eu? Não passam de considerações à vista de uma aldeia abandonada.”



  * lendo apenas esta passagem não se imagina qual é o tema do  livro - a relação entre dois irmãos , um deles com o síndrome de       Down -, nem a singularidade notável com que é  tratado.
    Também do ponto de vista literário este romance é especial. A forma invulgar como o autor ( nascido em 1990) intercala no texto os pensamentos do narrador, que fala com os seus próprios botões (a tal nuvem, em cima da cabeça do personagem, da banda desenhada), o uso inspiradíssimo de imagens, metáforas e comparações, dão a esta obra a expressividade e  "tonalidade lírica" que a tornaram merecedora do prémio Leyca 2014.
Gostei muito de o ler.

( e pronto, fiz  uma redacção .
Era assim que se chamava há, muitos e durante, anos - sem atrás , mas a fio -  a composição nos exercícios escritos da disciplina de  língua  portuguesa. Talvez erradamente, talvez não... Diferente , com certeza.)
 

sábado, 28 de outubro de 2017

Affection - Cigarettes After Sex




Sometimes we talk
All night long, we don't shut up
And when it's late
We'll say we're still wide awake so
We love to talk
About how you'll come up to visit me
And we'll rent a car
And we'll drive upstate

Mayra Andrade & Trio Mocotó - Berimbau


O berimbau(português de Angola) ou hungo(português  de Angola) é um instrumento de corda de origem angolana, também conhecido como berimbau de peito em Portugal ou como hungu em Angola e em grande parte do continente africano.
Este instrumento foi levado pelos escravos angolanos para o Brasil, onde é utilizado para acompanhar uma dança/luta acrobática chamada capoeira.


(Saiba mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Berimbau)


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Sei Lá /a Vida Tem Sempre Razão

Não faças planos para a vida, porque podes estragar os planos que a vida tem para ti. (Agostinho da Silva) 


Letra: Vinícius de Morais
Música: Toquinho

GUICHÊ / 1


Quando o burocrata trabalha é pior do que quando destrabalha.
Antes quero esperar, aquém guichê, que ele discuta toda a bola ou pedal
(que tem para discutir
com os destrabalhadores dos seus colegas;
antes quero esperar pelo meu burocrata
do que ter a desilusão de o ver trabalhar para mim mal eu chegue.
Isso custa-me pés e cotovelos, cãibras e suspiros, repentinos ódios vesgos,
projectos de cartas a directores de vespertinos,
mas se o meu burocrata assomasse à copa do papel selado
e me convidasse, acto contínuo, a dizer ao que vinha pelo higiefone,
da boca não me sairia um pedido, mas um regougo,
e eu teria de ceder a vez
ao cigarro que me queimasse a nuca.
É preciso exercer a paciência e cultivar a doçura no canteiro do rosto,
enquanto o burocrata destrabalha.
Geralmente não serve de nada pigarrear ou dizer com voz-passadeira «Fazmòbséquio».
Levantar-se-iam, além guichê, as sobrancelhas de, pelo menos, três sujeitos.
Melhor será começar pelo globo que pende do tecto
e que é um olho vazado sobrepujando a cena.
Melhor será observar como a mosca dos tinteiros
nele pousa as patinas escriturárias.
Depois (lição de coisas!) baixar os olhos para o calendário mural
e ver quantas cruzes a azul ainda faltam para liquidar o mês.
A seguir, circunnavegar o olhar para ir enquadrar noutra parede
um calendário perpétuo parado um mês atrás.
Também aqui há zelo e desmazelo.
Também aqui falta o tempo e sobra o tempo.
Por certo é o mantenedor do calendário em dia
o que está a vir para estes lados.
Já olhou para mim. Sorrio-lhe. Passou.
Volto ao globo e, geografia cega,
pergunto aos meus botões «Onde será Paris?».
Mas não é o terráqueo. É um abafador
que trago desde a infância e não abafou népia.
Curvo-me, enfio a cabeça pelo guichê e, num assomo,
comando em voz clara e alta: TODOS AOS SEUS LUGARES!
Quebrei o encanto!
Os burocratas que destrabalhavam correm pra mim à uma.
Trémulo de prazer, pergunto a um deles «É o senhor o meu?»

Alexandre O'Neill