domingo, 30 de junho de 2019

Keith Jarrett Trio - With A Song In My Hearto - With A Song In My Heart

"Pode sentir qu 'eu deixo "
  
Balada em Jazz
Em ( jazz) balada
Embalada   


Encantar-te-ás com os poetas até conheceres um



Encantar-te-ás com os poetas até conheceres um.
Com calças de poeta, camisa de poeta e casaco
de poeta, os poetas dirigem-se ao supermercado.

As pessoas que estão sozinhas telefonam muitas vezes,
por isso, os poetas telefonam muitas vezes. Querem
falar de artigos de jornal, de fotografias ou de postais.

Nunca dês demasiado a um poeta, arrepender-te-ás.
São sempre os últimos a encontrar estacionamento
para o carro, mas quando chove não se molham,

passam entre as gotas de chuva. Não por serem
mágicos, ou serem magros, mas por serem parvos.
A falta de sentido prático dos poetas não tem graça.



José Luís Peixoto, in Gaveta de Papéis (2008)

domingo, 23 de junho de 2019

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Bernardo Soares - Gosto de dizer.


Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.

Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio...» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. 
Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.



Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.


Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.



Fernando Pessoa /Bernardo Soares - Livro do Desassossego

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Cat Stevens - The Wind



I listen to the wind
To the wind of my soul
Where I’ll end up well I think
Only God really knows
I’ve sat upon the setting sun
But never, never never never
I never wanted water once
No, never, never, never


I listen to my words but
They fall far below
I let my music take me where
My heart wants to go
I swam upon the devil’s lake
But never, never never never
I’ll never make the same mistake
No, never, never, never

domingo, 9 de junho de 2019

Manuel Queiró ( b.1995) - Suit and Tie

                                           
                                                                         
                                (oil on canvas, 200x170cm)

© todos os direitos reservados

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Woody Allen on life and death

 W.A. on life:




W. A  on death

DOM LA NENA - Felicidade ( LupicÍnio Rodrigues)

Comove, arrepia, doi... Fundamental é sentir.

*LupicÍnio Rodrigues *
Lupi, como era chamado desde pequeno, compôs músicas que expressam muito sentimento, principalmente a melancolia por um amor perdido.
Foi o inventor do termo dor-de-cotovelo, que se refere à prática de quem crava os cotovelos num balcão ou mesa de bar, pede um uísque duplo, e chora pela perda da pessoa amada. Constantemente abandonado pelas mulheres. Lupicínio foi inspirado pela sua própria vida . Nas suas canções a traição e o amor andavam sempre juntos.

(Outra versão: Adriana Calcanhoto)

Dr. John - Such a Night

"You can literally hear him smile when he sings" .
  Joseph Halpern

sábado, 1 de junho de 2019