“I can't believe I was here, it was more special than I realized at the time. Thank you dad for taking me to see Cat Stevens, I will never forget this concert”.
( @Fr0stbyteGamezz - YouTube )
Esta vida tem de tudo. Escrevo sobre o que vejo, o que sinto, o que me interessa, sobretudo se e quando me apetecer. Se me lembrar, posso até contar a história do sobretudo que perdi num dia em que estava mesmo na lua...
“I can't believe I was here, it was more special than I realized at the time. Thank you dad for taking me to see Cat Stevens, I will never forget this concert”.
( @Fr0stbyteGamezz - YouTube )
The Groove
Como morreu sem me avisar, contra o que me tinha prometido, nem tive tempo de preparar o tailleur preto e as pérolas ( ficam sempre bem).
Vou ter sempre muitas saudades suas : das músicas tendencialmente kistch que ouvia em ”rrrrrandão” e me mandava ( já não posso embirrar consigo, vou dizer a verdade: muitas vezes calharam-me na rifa coisas extraordinárias), dos seus neologismos e improvisações nonsense, de rir até não poder mais.
Não acredito que foi para não sei onde, mas caso afinal já lá esteja, imagino-o Chefe de um Estado Maior Enorme, com um quórum esfuziante, a deliberar sobre uma das suas tantas piadas parvas, numa língua qualquer das várias que fala, ou noutra que inventou agorinha mesmo.
E eu por cá com tudo o que de si me fica, Misteryu: aquilo que fomos conversando, o muito que me divertiu, o tanto que me irritou ( supinamente!), desafiou, contrariou, ensinou.
Uma vez , já estava doente no Natal, chamou me Miss Adogalo.
Tanta graça na sua desgraça …
Hoje é um dia solene e por isso assino, de forma muito sentida, com a minha caneta mais chique.
MissU Lotes&Lotes 4Ever&Ever
Joe, Clara, Ted Shawn and Friends from Pilatesfan on Vimeo.
So simple yet so funny
Há pessoas a quem falta a quarta classe para acabarem o curso e há por aí uma universidade privada que compreendeu isto na perfeição. Saber mudar o pneu de um automóvel é o bastante para ser engenheiro mecânico
Lembro-me de um primo meu, pequeno, dizer
- Se a mãe sesse o pai puzia gravata
lembro-me da Isabel, quando a levei a uma exposição de pintura e lhe perguntei o que achava, me responder
- É um bocado aborrecente
lembro-me do Pedro, zangado com o João, bater à porta do quarto do banho a fazer queixa, do pai a exclamar
- Ah
e do Pedro para o João, vingado
- Estás a ver, o pai disse Ah
e acho que se fossemos mais assim a nossa vida melhorava.
Muito mais do que escutar um ministro referir-se às "ciclópicas tarefas que nos pendem sobre os ombros", e eu a ver as ciclópicas tarefas a escorregarem pelas mangas abaixo, ou do professor de Obstetrícia que declarava
- O que caracteriza esta doença é ser caracterizada pelas seguintes características.
Se dependesse de mim puzia o meu primo a dar aulas, arranjava um ministro menos aborrecente e escolhia um professor de Obstetrícia capaz de resumir a lição num
- Ah eloquente.
Lembro-me de um cabo, em Angola, que respondeu
- Básicopraticamente
quando lhe perguntei se ele achava que tinha razão, e espanta-me que os políticos não respondam isso ao interrogarem-nos se pensam que as suas opções são correctas, e as eleições não sejam marcadas para o dia trinta e dois que era a data em que um sipaio queria casar-se. Básicopraticamente tinha razão: que dia existe melhor que o trinta e dois para uma cerimónia dessas? O que não se pouparia no médico se tomassem todas as manhãs uma aspirina, como o meu amigo senhor Vicente que, ao interessar-me pelas vantagens de tanta pastilha, me esclareceu, firme:
- Pelo sim pelo não
o mesmo que me apareceu com uma coceira qualquer e que, ao comentar-lhe que devia ser chato estar sempre a torturar a pele com as unhas me informou
- É chato na medida em que se torna aborrecido
coisa em que francamente nunca tinha pensado. É que, de facto as situações chatas são-no na medida em que se tornam aborrecidas e a profundidade desta frase não me abandonou mais. Tanta agudeza expressa de um modo aparentemente tão simples basta para elevar um homem às alturas do génio. Ainda por cima pode virar-se a coisa ao contrário e afirmar que o aborrecido é aborrecido na medida em que se torna chato, o que nos faz voltar à crítica de pintura da Isabel. Mais cedo ou mais tarde os grandes espíritos acabam por encontrar-se na opinião de uma criança de cinco anos. E aborrecente possui uma perfeição semântica que deixa o aborrecido a léguas. É este pequeno toque de génio que faltou ao senhor Vicente para se tornar um Kant.
Groovin' since 1968.
( a tradição ainda é o que era)
Bruno Nogueira
Humorista
02 de março
Literatura por medida
O autor está morto, pegaram no livro dele e alteraram frases e palavras de maneira a que o leitor não se sinta ofendido. Vivemos uma época em que para não ofender os leitores vivos, manipula-se a escrita dos autores mortos.
ESTÁ A ACONTECER um pouco por todo o lado, mas sobretudo em livros. E até que enfim que está a acontecer, porque assim o mundo fica logo mais justo. Eu pelo menos sinto isso, quando saio à rua. A editora britânica do escritor Roald Dahl (autor de Matilda, Charlie e a Fábrica de Chocolate, etc.) terá contratado uma equipa para analisar as obras do autor, e sugerir alterações. Tudo para que os livros de Dahl “continuem a ser apreciados por todos nos dias de hoje”. Logo aqui, um erro. Devia ser: “Para que continuem a ser apreciados por todos os panhonhas nos dias de hoje.” Assim sendo, pegaram nesses livros e alteraram algumas passagens. Porquê? Porque há pessoas a quem fazem dói-dói determinadas palavras. E qual é a solução? Temos aqui vários caminhos, e vejam se conseguem adivinhar o mais sensato: Hipótese A, o leitor escolhe não ler porque não aprecia a linguagem contida no livro. Hipótese B, o leitor lê e entende que uma obra de ficção representa isso mesmo (uma obra de ficção), e contextualiza na época em que foi escrito; ou hipótese C, o leitor amua porque há no livro palavras que ele sente que não deve ler, e a editora altera para que ele nunca mais tenha de passar por tamanha afronta. Se está alcoolizado e respondeu a hipótese C, acertou.
Foram alteradas centenas de palavras. Por exemplo, saiu a palavra “gordo” para entrar “enorme”. A palavra “feio” também foi abolida. Numa outra obra, uma personagem que é descrita como “terrivelmente gorda e terrivelmente flácida” passa agora a ser “bruta” e que “merece ser esmagada pela fruta”. Os Oompa Loompas do Charlie e a Fábrica de Chocolate deixam de ser “pequenos homens” para serem “pequenas pessoas”. E noutra obra os “homens-nuvem” passam a ser “pessoas-nuvem”. Isto faz com que Roald Dahl passe a ser woke, mesmo sendo um esqueleto. Trocar palavras de obras quando não gostamos delas ajuda muito. Já fiz o mesmo com “IVA”, agora só tenho de ir a tribunal explicar que aquelas iniciais me deixam
Também é curioso que isto seja uma questão que incomoda sobretudo os autores, porque os principais lesados nestas mantas de retalhos são os leitores, que ficam privados de uma linguagem que corresponde ao escritor que estão a ler, para passarem a ser brindados com colagens de várias palavras que o escritor nunca escreveu em vida (nem na morte, já agora), mas que foram escritas por uma equipa que sente que era assim que o autor deveria escrever nos tempos actuais. Acontece que o autor não escreveu nos tempos actuais, o que faz com que não consiga ter uma linguagem do futuro, uma vez que escreveu no passado. Pormenores. Não sei se consigo passar a gravidade da questão sem me repetir: o autor está morto, pegaram no livro dele e alteraram frases e palavras de maneira a que o leitor não se sinta ofendido. Também se soube que os livros de 007 de Ian Fleming vão sofrer alterações para que não tenham expressões consideradas racistas ou ofensivas. Vivemos uma época em que para não ofender os leitores vivos, manipula-se a escrita dos autores mortos. É possível que funcione, na medida em que as pessoas vivas fazem-se ouvir com mais intensidade do que as pessoas mortas. Se eliminarmos palavras como “gordo” e “feio” dos livros, deixa de haver gordos e feios na vida real, o que é um descanso para a vista. Também deixa de haver racistas. Os problemas do mundo ficam todos resolvidos com o Microsoft Word.
E Deus nos livre que um leitor leia uma coisa que o incomoda. Na verdade, Deus nos livre que uma pessoa seja confrontada com um filme, uma série, uma pintura, um livro, ou qualquer coisa que não encaixe perfeitamente nos parâmetros de gosto daquela pessoa. Correu sempre tão bem quando alteraram frases de livros, e proibiram a venda de outros, que não estou a ver que desta vez vá correr pior. São sempre sinais de uma sociedade em evolução: achar que as novas gerações não podem ter acesso à forma como as outras gerações escreviam. Nesse caso, para que serve o passado, seja ele bom ou terrível? Como é que se pode evoluir, sem se saber de onde se veio? Enfim, perguntas que deixo aqui hoje, mas que daqui a 20 anos alguém vai alterar para “A pessoa Bruno gostava muito de nuvens e de papoilas”.
Antigamente a isso chamava-se mimo, hoje em dia é progresso. Quando alguém começava a fazer birra porque um amigo lhe tinha dito uma palavra feia, o que se dizia era: “Respondes à altura e defendes-te, ou então viras costas e vais-te embora.” O que se ensina hoje é: “Se alguém disser uma palavra feia que tu não queres ouvir, vais até à directora da escola e depois tratamos de mandar o menino para uma terra muito longe daqui, e nunca mais vais ter de ouvir falar dele.”
Entretanto, após protestos de várias pessoas (entre elas o escritor Salman Rushdie), a editora veio dizer que vai manter a versão original para quem quiser, mas que vai também editar esta versão revista, para o público mais sensível. Não será mais fácil o público mais sensível procurar obras mais sensíveis? Eu sei, faço muitas perguntas.
Estamos a blindar o mundo para que as pessoas só vejam e ouçam o que não lhes provoca o mínimo beliscão. A arrogância de achar que vão passar pela vida só a ouvir o que querem tem tudo para correr bem, porque está provado cientificamente que o que ofende uma pessoa, é exactamente o mesmo que ofende a que está ao lado, por isso o assunto vai-se resolver com facilidade e rápido consenso.
Palavra de gordo.
Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico
O tico tico tá, tá outra vez aqui
* Se alguém lhe perguntar o que é o amor, mostre-lhe esta obra de arte*
Tribalistas - Carnalismo
No rastro do seu caminhar
No ar onde você passar
O seu perfume inebriante
Pendura num instante
A rua inteira a levitar
Me abraça e me faz calor
Segredos de liquidificador
Um ser humano é o meu amor
De músculos, de carne e osso
Pele e cor