O excerto de um belíssimo texto de Dinis Machado sobre "a questão do tempo (...) aquela que estipula melhor o que há de esquivo e penoso na efemeridade humana" .
Um relógio velhinho, velhinho, de aspecto curioso e particularmente vigilante. Nunca é esquecido: muito estimado e tratado a tempo e horas.
Ilude, parece que tem vida ... Dizem que há quem tenha perdido a noção do tempo, por se ter demorado a admirar o movimento contínuo daqueles olhos ao som dos ponteiros sempre a andar, a andar, sempre ...
"Olho o anúncio do relógio Omega. A vida não pára, fonte e foz, passar é a sua vocação - e o relógio fixa, ancorado no tempo, alheio a tudo: nove horas e treze minutos. Ou tem o mecanismo escangalhado, ou esqueceram-se dele. Não administrado, ausente é a sua filosofia de pequenas rodas dentadas; ferrugenta e gasta, completamente inútil, a memória que não tem."
(Dinis Machado - Gráfico de Vendas com Orquídea e outras formas de arrumar conhecimentos - 20 textos de 1977 a 1993- Lisboa, 1999, edições Cotovia )