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Vitorino das Donas é uma aldeia do Alto Minho,norte de Portugal.
Reportagem de Alfredo Leite,publicada em www.vimeo e também em 2009 no JN (http://www.jn.pt/)
Fotografia Alfredo Leite
Edição Joana Bourgard
* "Compasso encantado em Vitorino das Donas
Ponte de Lima cumpre uma tradição pascal que se perde nos tempos. Durante dois dias o compasso e uma orquestra percorrem as casas da freguesia e, com eles, todos os seus moradores
Publicado em 2009-04-19 no JN
Alfredo Leite
Um tapete de pétalas aqui, um rasto de funcho mais adiante. São sinais repetidos ano após ano e que conduzem a portas entreabertas, onde as famílias aguardam a chegada da cruz.
Nas cozinhas, há mesas abastadas prontas a matar a fome - e, sobretudo, a sede - dos sete homens que compõem o compasso em Vitorino das Donas, Ponte de Lima. Os sete, mais as três dezenas de pessoas da orquestra que segue a cruz e uma freguesia em peso, atrás da música, visitam, uma a uma, as casas da aldeia. É domingo. A azáfama começa bem cedo. O pequeno-almoço toma-se ainda de madrugada, muito antes da missa, às 7.00 horas, na granítica igreja de onde o compasso pascal sairá à rua, mal estalem os foguetes. O tilintar da sineta não mais deixará de se ouvir pelas ruas de Vitorino das Donas, numa melodia minimal que há-de durar até ao cair da noite de segunda-feira. A banda dá os primeiros acordes e o compasso assiste estático. Nas ruas, ainda desertas, homens madrugadores de fato escuro esperam nas esquinas. Fala-se do que já se sabe: o trajecto do compasso, o ornamento da cesta, a roupa do vizinho. À medida que as horas avançam vão-se juntando mais pessoas. Há mulheres e crianças vestidas com as melhores roupas domingueiras.
O compasso prossegue a bom ritmo. O cansaço não esbate os sorrisos e às gentes da freguesia começam agora a juntar-se os forasteiros, talvez atraídos pelas televisões que este ano falaram da Páscoa nas "Donas". Escutam-se comentários. "Nunca tinha visto homens de lenço na cabeça", dizem, numa alusão aos "cachenés" típicos das vianesas. A noite cai finalmente. A visita às seis últimas casas pode durar duas horas. Chega depois o clamor. Pela estrada escura, no caminho de regresso à igreja, o compasso é seguido por centenas de pessoas num cântico arrastado que rompe o silêncio profundo do vale do Lima." *
* Este texto foi publicado no JN em 19-4-2009
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