quarta-feira, 31 de outubro de 2012

POEMA EM LINHA RECTA


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus amigos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso, arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas do hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste mundo que me confesse que uma vez já foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos
(heterônimo de Fernando Pessoa)



Declamar um poema não é fácil, mesmo os de Álvaro Campos que são tão expressivos.
Osmar Prado, grande actor brasileiro, interpreta magistralmente o "Poema em Linha Recta" numa cena da popular telenovela "O Clone".  Não encontrei em Portugal ninguém que o fizesse desta forma. Mais: assim se mostra que a cultura é de todos e para todos. Entre nós encontra-se fechada na redoma fria e balofa  da erudição a que só alguns pretendem ter acesso. É pena.      

domingo, 28 de outubro de 2012

Cristina Branco & Blöf - Dansen aan de zee( Dançando à beira mar)

"I've got no idea what they're saying but, God, I love this song. Don't care if it's a song about love, death or breakfast cereal, it still sounds fantastic!"


A música é mesmo linguagem universal. É fascinante  perceber como pessoas que não falam Português ou Alemão "compreendem" ," sentem" a canção, em que alguém se despede do seu amor....

No momento em que Cristina termina o primeiro verso, rompe um enorme aplauso, que é  um impulso de reconhecimento feliz por todo o sentimento, garra, alma que ela  transmite ao cantar tão bem (é mais ou menos isto que se diz na introdução...). 

Arrepia!  


Excerto do documentário "Alto do Minho" de Miguel Filgueiras

Alto do Minho, mais do que um documentário é uma impressão (...) mais do que um filme é um retrato que se mexe (Miguel Filgueiras).


Alto do Minho | Free view segment from MIGUELFILGUEIRAS on Vimeo.

sábado, 20 de outubro de 2012

Que Sera Sera (Disabled children from Thailand)


À procura da canção "Whatever Wil Be ,Whil Be",  interpretada pela primeira vez por Doris Day, encontrei esta espantosa versão, que  me toca e sinto como nenhuma outra. Sublime! 
   
Vale a pena ficar a saber como tudo aconteceu , acedendo a este link:        
http://www.thailand-travelonline.com/thailand-reviews-recommendations/best-of-thailand/best-commercial-ever-que-sera-sera-whatever-will-be-will-be/1483/

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Club Des Belugas feat Brenda Boykin - Second Sight


Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina
Joana V Coração Independente from FICA on Vimeo.


Joana Vasconcelos é a mais reconhecida e apreciada artista portuguesa da sua geração. Com um percurso nacional e internacional de grande relevo, a artista oferece-nos uma visão simultaneamente cúmplice e crítica da sociedade contemporânea. O seu processo criativo assenta na apropriação, descontextualização e subversão de objectos pré-existentes e realidades do quotidiano.
A realizadora Joana Cunha Ferreira acompanhou a artista ao longo de quase um ano, seguindo de perto a montagem de uma das suas peças mais icónicas, "Dorothy", um sapato gigante construído a partir de centenas de tampas e panelas. O filme olha de perto para o processo de trabalho da artista e da sua equipa, que vemos em acção no seu atelier, mas é também um retrato de Joana Vasconcelos, da sua força e talento extraordinários.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A Coisa - Mário Quintana



A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi própriamente dita.

domingo, 7 de outubro de 2012


(Olá)

Se te vi,
Mal te conheço.
Nem  sei  pensar em  ti…


(E daí?)

Adormeço com a tua ausência
Que, reconheço, me tira a paciência
De estar sem ti,
Aqui.

Aborreço-me,
Ai!

(Vai daí…)

Desapareço,
Vou-me daqui.
Para ali, para acolá?
Desconheço.
Sei lá!
Por aí…

(Para já)

Luísa Castelo-Branco

Dancing with Wynton Marsalis y Chano Dominguez live in Vitoria 2009 part2