sábado, 9 de fevereiro de 2013

A Companheira por Zelia Duncan


   Zélia Duncan compôs a música. A  letra desta canção é de Luiz Tatit (cuja biografia vale a pena conhecer  http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Tatit)  que também a canta, quanto a mim, sem a "chama" a que neste vídeo se assiste .
   Esta interpretação prende e faz sentir cada frase que é dita a cantar. 
   O poema faz pensar, comove.... A história por ele contada seria  tocante, mesmo que só pudesse ser lida. 





A Companheira 


Eu ia saindo, ela estava ali

No portão da frente

Ia até o bar, ela quis ir junto

"tudo bem", eu disse

Ela ficou super contente

Falava bastante,

O que não faltava era assunto

Sempre ao meu lado,

Não se afastava um segundo

Uma companheira que ia a fundo



Onde eu ia, ela ia

Onde olhava, ela estava

Quando eu ria, ela ria

Não falhava



No dia seguinte ela estava ali

No portão da frente

Ia trabalhar, ela quis ir junto

Avisei que lá o pessoal era muito exigente

Ela nem se abalou

"o que eu não souber eu pergunto"

E lançou na hora mais um argumento profundo

Que iria comigo até o fim do mundo



Me esperava no portão

Me encontrava, dava a mão

Me chateava, sim ou não?

Não



De repente a vida ganhou sentido

Companheira assim nunca tinha tido

O que fica sempre é uma coisa estranha

É companheira que não acompanha



Isso pra mim é felicidade

Achar alguém assim na cidade

Como uma letra pra melodia

Fica do lado, faz companhia



Pensava nisso quando ela ali

No portão da frente

Me viu pensando, quis pensar junto

"pensar é um ato tão particular do indivíduo"

E ela, na hora "particular, é? duvido"

E como de fato eu não tinha lá muita certeza

Entrei na dela, senti firmeza



Eu pensava até um ponto

Ela entrava sem confronto

Eu fazia o contraponto

E pronto



Pensar assim virou uma arte

Uma canção feita em parceria

Primeira parte, segunda parte

Volta o refrão e acabou a teoria



Pensamos muito por toda a tarde

Eu começava, ela prosseguia

Chegamos mesmo, modesta à parte

A uma pequena filosofia



Foi nessa noite que bem ali

No portão da frente

Eu fiquei triste, ela ficou junto

E a melancolia foi tomando conta da gente

Desintegrados, éramos nada em conjunto

Quem nos olhava só via dois vagabundos

Andando assim meio moribundos



Eu tombava numa esquina

Ela caía por cima

Um coitado e uma dama

Dois na lama



Mas durou pouco, foi só uma noite

E felizmente

Eu sarei logo, ela sarou junto

E a euforia bateu em cheio na gente

Sentíamos ter toda felicidade do mundo

Olhava a cidade e achava a coisa mais linda

E ela achava mais linda ainda



Eu fazia uma poesia

Ela lia, declamava

Qualquer coisa que eu escrevia

Ela amava



Isso também durou só um dia

Chegou a noite acabou a alegria

Voltou a fria realidade

Aquela coisa bem na metade



Mas nunca a metade foi tão inteira

Uma medida que se supera

Metade ela era companheira

Outra metade, era eu que era



Nunca a metade foi tão inteira

Uma medida que se supera

Metade ela era companheira

Outra metade, era eu que era


Luiz Tatit  

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